A 13 anos escrevia neste espaço sobre o centenário do Atlético, escrevi com profissionalismo, pois se tratava do rival do meu time. Pois bem, naquela data imaginava como seria quando o Cruzeiro chegasse ao seu Centenário, no longínquo 2021. E 2021 chegou, meu time está completando 100 anos de uma linda história, mas com um presente triste e futuro esperançoso em voltar a ser o gigante temido no Brasil e no mundo.
Este texto será uma mistura de profissionalismo com paixão, pois todo jornalista que se preze tem seu time, uns revelam, outros não. Como todos sabem, sou um cruzeirense, orgulhoso das conquistas e dos times que fizeram o clube celeste ser um gigante nacional e sim o maior clube de Minas.
O clube nasceu em 1921, fruto da colônia italiana e como Palestra Itália, sob as cores da bandeira italiana. Desde então, o Palestra já surgia como rival do Atlético e América. Os primeiros títulos vieram num tri mineiro entre 1928 e 30. Mas aí veio a mudança de nome por causa da Segunda Guerra Mundial, que proibiu nomes relativos a Itália. E o Palestra virou Cruzeiro, numa inspiração da constelação Cruzeiro do Sul cravada na bandeira do Brasil. E a cor azul se fez presente e assim ficou melhor.
Nesta época, o Cruzeiro ainda era um clube menor que os rivais, mas vinha crescendo e alguns títulos apareceram. Tudo mudou nos anos 60, especialmente, depois que surgiu um gigante que mudou a história do Clube e do futebol mineiro, o Mineirão. Logo em seu segundo ano no Gigante da Pampulha, o clube celeste foi apresentado ao Brasil com o seu primeiro título brasileiro. Era um jovem time comandado por craques como Dirceu Lopes, Raul Plasmann e Tostão, que assombrou o país ao golear o Santos de Pelé por 6 a 2 no primeiro jogo da final da Taça Brasil e voltou a derrotar no segundo jogo por 3 a 2. Mudou o patamar do Futebol mineiro e o Clube passou a ser reconhecido como um grande de Minas, rivalizando-se com o Galo.
A década de 60 foi de crescimento para os Celestes e um pentacampeonato mineiro foi a chave para o crescimento da torcida. A década seguinte foi de consolidação do gigante nos cenários Brasileiro e Sul-Americanos. Duas vezes vice brasileiro, 74 e 75, e novas disputas na Libertadores. Em 1976, o primeiro e inesquecível título continental. Da turma de 66, só restou o goleiro Raul, mas um novo esquadrão formado por nomes como Joãozinho, o Bailarino, Nelinho e Jairzinho, o Furacão da Copa, fez uma decisão épica contra o River Plate que foi para o terceiro jogo e um gol improvável de Joãozinho fez a América pintar-se de Azul pela primeira vez. Foi o segundo clube brasileiro a Conquistar a América, antes do Cruzeiro, só o Santos de Pelé havia conquistado a Libertadores. No ano seguinte, o clube voltou a disputar a final da Libertadores, porem, foi derrotado nos pênaltis para o Boca. Antes disto, a chance de conquistar o mundo, mas na frente o poderoso Bayern de Munique de Gerd Muller e Franz Beckenbauer. O primeiro jogo foi no Mineirão e um empate sem gols, mas o Cruzeiro sucumbiu-se ao frio germânico e o sonho de conquistar o mundo acabou com 2 a 0.
A década de 80 foi de muita irregularidade e poucos títulos, mas o amor da torcida não diminuiu e nem o sucesso do rival Atlético que enfileirava títulos mineiros e tinha um time superior fazia que o time perdesse a esperança em dias melhores.
A década de 90 surgiu e com ela, uma competição que deixou saudades em muitos cruzeirenses. A Supercopa da Libertadores, uma competição em que as médias de público superavam os 70 mil por jogo no Mineirão e que a Raposa consolidou-se como a “Bestia Negra” dos times sul-americanos. Um timaço comandado por Charles, Renato Gaúcho e Marco Antonio Boiadeiro, conquistou o Bicampeonato em 91 e 92.
Em 93, a primeira Copa do Brasil e os títulos mineiros vieram aos montes, encantando a torcida. No mesmo ano, surgiu um garoto franzino e velocista, com o faro de gol apurado que logo chamou a atenção, seu nome, Ronaldinho, brilhou com a camisa celeste e foi para o Mundo onde virou Ronaldo fenômeno.
A segunda Copa do Brasil foi inesquecível para o Cruzeiro. O adversário era um timaço do Palmeiras e o jogo final foi em São Paulo, a festa estava armada para os palmeirenses, mas o título veio para Minas Gerais com um gol de Marcelo Ramos. A conquista da Copa do Brasil em 96 deu vaga a Libertadores de 97. Depois de quase eliminado na primeira fase, o Cruzeiro voltou a final da competição e o segundo título veio com um gol de Elivelton em uma final contra o Sporting Cristal do Peru num Mineirão, lotado com mais de 100 mil pessoas. No final do ano, mais uma vez a disputa do mundial e, novamente, contra um Alemão, desta vez, o Borussia Dortmund. Com um time mal treinado, o Cruzeiro perdeu e fez a torcida ficar frustrada mais uma vez no Mundial.
Era uma época boa que o Cruzeiro disputava todos os títulos e chegava a muitas finais. Em 98, a chance de conquistar o Brasileirão veio mais uma vez, mas sucumbiu-se diante do Corinthians e seu timaço que viria a ser campeão do mundo anos depois. Mas em 2000, veio o tricampeonato da Copa do Brasil e mais uma vez, o título foi emocionante. O título veio numa inesquecível virada contra o São Paulo com o gol do título marcado por Geovanni aos 46 do segundo tempo. O gol fez explodir os 90 mil torcedores que lotavam o Mineirão e os milhões que acompanhavam pela TV.
O melhor ano da vida deste gigante chamado Cruzeiro foi o ano de 2003. O time de Alex, Aristizabal, Cris e comandado por Vanderlei Luxemburgo, encantou o Brasil e conquistou três títulos na temporada. Mineiro, o tetra da Copa do Brasil e o tão sonhado Brasileiro, já que a CBF ainda não reconhecera o título da Taça Brasil como Brasileiro. E ensinou o Brasil como se joga pontos corridos e com goleadas chegou aos 100 pontos e 102 gols. Era a primeira edição dos pontos corridos no Brasileiro.
O fim da década de 2000, fora marcada por goleadas inesquecíveis. Em 2008 e 2009, o título mineiro foi sacramentado por goleadas de 5 a 0 sobre o rival galo, e muita zoeira na cidade e no estado para cima dos atleticanos. Ainda em 2009, o Clube chegou a mais uma final de Libertadores, a chance do tri da América acabou com uma dolorida derrota para o Estudiantes no Mineirão de virada.
Em 2011, um flerte com o rebaixamento aconteceu. No último jogo, o adversário era o Rival Atlético que poderia rebaixar o time azul, sonho de qualquer atleticano. Mas o que era um pesadelo se transformou em uma goleada azul por 6 a 1 e zoeiras novamente com os torcedores atleticanos.
2013 e 2014 foram os anos do futebol mineiro e o Cruzeiro estava com protagonismo. Com um time técnico e altamente ofensivo, o time azul chegou a um bicampeonato brasileiro. A dupla formada por Everton Ribeiro e Ricardo Goulart e comandado por Marcelo Oliveira encantou o Brasil. O time fez, ainda, uma final histórica da Copa do Brasil com o Atlético, perdeu a chance do Penta com duas derrotas, mas ninguém saiu triste do estádio pois estavam comemorando o Tetra Brasileiro, conquistado dias antes.
Em 2017 e 2018, novo bicampeonato, desta vez, da Copa do Brasil, derrotando, Flamengo e Corinthians, respectivamente na final, se tornando o maior ganhador da competição com 6 títulos. Eu falaria com mais entusiasmo destas conquistas caso não tivéssemos na situação atual. Pois veio o ano de 2019 e o que estas conquistas mascaravam foram descobertos e o clube se afundou numa crise ética, esportiva e administrativa.
Más administrações, roubos financeiros e muita corrupção afetaram o clube num todo. Dirigentes e jogadores fizeram com que o Cruzeiro fosse rebaixado pela primeira vez no fim de 2019, uma mancha que faz o cruzeirense sofrer e que ainda não foi superada, pois, no ano de 2020, não voltamos para a Elite, devido a um mal planejamento da diretoria que pegou o clube saqueado. E para piorar, a Pandemia e a falta de públicos e de receita, tem atrapalhado o time em campo. Passaremos o ano do Centenário na Série B, na esperança de dias melhores e que possamos voltar ao lugar de onde nunca poderíamos ter saído.
Outros esportes
O Cruzeiro se notabilizou, também, em outros esportes. A equipe de atletismo conquistou vários títulos em corridas como a Volta da Pampulha e maratonas no Brasil e no mundo. Mas o que se destaca e deixa o torcedor com orgulho é o vôlei, na parceria com o Sada, o Clube celeste conseguira o que o futebol não conseguiu, o título mundial e por 3 vezes, além de vários outros títulos. O que faz do Sada/Cruzeiro, o maior clube de vôlei da história do Brasil.
Por fim, mesmo com o presente triste, este texto foi uma forma de homenagear o clube do meu coração, o que me fez apaixonar pelo futebol. Já sofri, já chorei de tristeza e de alegria, já fiz loucuras, me ajudou a caminhar sozinho, pelo Cruzeiro. Obrigado por existir Cruzeiro.